Novembro: Mês de Todos os Santos

TODOS OS SANTOS

“Era uma imensa multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas”(Apc 7, 9).

A Solenidade de todos os santos engloba os três momentos do tempo, além da dimensão universal do espaço. Realmente, celebramos os justos do passado, celebrando a vocação à santidade futura – ou seja, o céu – e celebramos a santidade como dom – graça – presente e atuante na história.

A santidade presente ou atual, que muitas vezes é menosprezada, é o centro da liturgia desta festa, pela mensagem do Santo Evangelho: as Bem-aventuranças devem ser entendidas como uma proclamação, pronta e acabada, do Reino de Deus para as pessoas que vão ficar felizes com o acontecimento do Reino entre nós. São, por conseguinte, ao mesmo tempo, a proclamação da amizade de Deus para aqueles que participam do espírito que é evocado num programa de vida que todos nós somos chamados a viver: a pobreza, a consolação, a mansidão, a justiça, a misericórdia, a pureza e a paz. Tudo que vem de Deus e retorna para o mesmo Deus, o da vida plena.

O caminho natural da vida é nascer e um dia morrer. Ninguém vai fugir da única certeza que é a morte. De Deus viemos e para Deus voltaremos, porque Cristo conseguiu a vitória sobre a morte e levou a criatura a participar da vida incorruptível e eterna de Deus. O mesmo Senhor que nos legou a vida nos dá a morte: “Tu, Senhor, tens poder sobre a vida e sobre a morte”(Cf. Sb 16,13). Assim, o mesmo Senhor que nos criou por amor, acolhe-nos para um amor infinito, para uma perfeita comunhão com ele.

Nós, homens e mulheres, de maneira completa, corpo e alma, pertencemos ao Senhor. A morte é um encontro festivo do amor divino e da vida humana. São Paulo mostra-nos que é “preciso que este corpo corruptível se revista de incorrupção e que este ser mortal se revista de imortalidade”(Cf. 1Cor 15,53). A morte, portanto, é a ponte entre a bela vida terrena e passageira para a belíssima vida celeste, divina e eterna junto de Deus.

Os mortos não retornam a este mundo, mas nós formamos com eles que se encontram na chamada COMUNHAO DOS SANTOS, uma verdadeira comunhão. O que significa que há uma possibilidade de comunicar-nos com eles pela oração, pelas missas que celebramos pelo seu eterno repouso. Nos ajudamos mutuamente, rezando pelos falecidos que estão na comunhão dos santos, fazendo a sua memória no Cristo Ressuscitado.

A festa de Todos os Santos como a festa de finados tem um viés todo pascal, de ressurreição, de vida eterna. De dentro da escuridão da morte, nos levantaremos como o Cristo, como o sol de uma aurora sem ocaso. E da noite da nossa morte se poderá dizer o que se canta na noite pascal: “Ó noite verdadeiramente gloriosa, que une a terra ao céu, o homem criado ao seu Criador!”.


 HISTÓRIA DO DIA DE FINADOS

O Dia de Finados é o dia da celebração da vida eterna das pessoas queridas que já faleceram. É o Dia do Amor, porque amar é sentir que o outro não morrerá nunca.

É celebrar essa vida eterna que não vai terminar nunca. Pois, a vida cristã é viver em comunhão íntima com Deus, agora e para sempre.

Desde o século 1º, os cristãos rezam pelos falecidos; costumavam visitar os túmulos dos mártires nas catacumbas para rezar pelos que morreram sem martírio.

No século 4º, já encontramos a Memória dos Mortos na celebração da missa. Desde o século 5º, a Igreja dedica um dia por ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém se lembrava.

Desde o século XI, os Papas Silvestre II (1009), João XVIII (1009) e Leão IX (1015) obrigam a comunidade a dedicar um dia por ano aos mortos.

Desde o século XIII, esse dia anual por todos os mortos é comemorado no dia 2 de novembro, porque no dia 1º de novembro é a festa de “Todos os Santos”.

O Dia de Todos os Santos celebra todos os que morreram em estado de graça e não foram canonizados.

O Dia de Todos os Mortos celebra todos os que morreram e não são lembrados na oração.

Mons. Arnaldo Beltrami – vigário episcopal de comunicação


A CELEBRAÇÃO DE FINADOS – A VIDA ETERNA QUE CRISTO NOS PROMETE COMEÇA AGORA!

Estamos no Mês de novembro. Nesse mês, de modo especial no dia de finados, relembramos nossos familiares, amigos que partiram de nosso convívio. Para uns esse ato de recordar é tranqüilo, sereno; para outros reabre às vezes feridas, renasce o pranto e prolonga a dor porque ainda não conseguiu aceitar a separação daquele ou daquela que partiu do convívio cotidiano. De um ou de outro modo o ato de recordar reacende a saudade, mas também a dor.

A visita que fazemos ao cemitério, as preces que elevamos a Deus, as velas que acendemos, as flores que oferecemos aos nossos entes queridos são um expressão do nosso amor e carinho a eles. Mas não apenas isso. É também expressão de nossa confiança em aqueles que não estão mais juntos de nós fisicamente, que não caminham conosco em nosso dia a dia, definitivamente, não morreram. Essa garantia é o próprio Jesus quem nos da: “aquele que crê em mim, mesmo que morra viverá eternamente” (Jo 11,25). Para os que acreditam a vida não se restringe no aqui e agora que vivemos na história, porém a vida se revela em algo muito maior. A vida apreciada no amor é, na fé, convivência eterna em comunhão com Deus. Essa é a esperança cristã que nos conduz a um olhar confiante e alegre a essa comunhão de amor que há de vir.

Todavia, a vida eterna, a salvação não é para ser buscada apenas depois da morte.  Essa busca deve começar aqui e agora. Trata-se antes de tudo de acreditar no chamado que Deus faz a nós em Cristo. Por meio do seu filho Deus nos põe em comunhão com Ele. Mas essa é uma verdade de fé. Assim como somente pela fé em Cristo e sob a ação do Espírito podemos conhecer quem é Deus, do mesmo modo é também pela fé que podemos ter acesso a essa verdade, ou seja, à vida glorificada.

Mas cuidado para não entender errado o que estamos falando. Quando digo que é preciso crer trata-se de acolher aquele que é o Senhor da vida em nossa vida e aceitar que sua Palavra seja “lâmpada para os nossos pés” no dia a dia. Trata-se de deixar que ela – a Palavra – transforme nossa vida a tal ponto que possamos também hoje amar como o Cristo amou e ama, perdoar, solidarizar, profetizar, enfim, servir e fazer o bem como ele o fez. Dessa maneira antecipamos desde já a convivência plena no amor de Deus.

O Cristo glorioso e ressuscitado não é outro senão aquele chorou diante de seu amigo Lázaro, que teve compaixão da multidão faminta, que caminhou em busca da ovelha perdida, que carregou a cruz até o calvário e lá foi crucificado e morto. Com isso quero dizer que seremos o que somos agora. Será eternizado o que agora vivemos e fazemos. Na verdade a promessa e garantia da vida eterna supõe um modo de viver. É um viver segundo Cristo ou como diz Paulo, “não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

Tudo o que expressamos é preciso ser visto em relação a outro ato de recordação e celebração que antecede o dia de finados: a Festa de todos os Santos. Louvamos e bendizemos a Deus por todos os santos. Mas quem são os santos? São nossos irmãos na fé que numa determinada viveram a fé em Cristo buscando fazer a vontade do Pai. É verdade que o número dos santos não são somente aqueles que a Igreja já os declarou. Vai muito alem. Ser santo é um chamado dirigido a todos os homens e mulheres que ontem, hoje e amanhã peregrinam por esta terra (1 Cor 1,2).

Nesse sentido podemos dizer que todos os nossos irmãos, amigos, familiares que não estão mais conosco já experimentam a alegria de ser santo como nosso Deus é santo em sua ressurreição. Essa mesma alegria somos nós convidados a experimentá-la em nosso caminhar cotidiano rumo à pátria definitiva. Isso implica fazermos o que já expusemos: viver em Cristo abraçado às tarefas do Reino de Deus. Para ser mais claro, viver a caridade com os irmãos, sobretudo, o pobre, o enfermo, o faminto, pois este rosto sofrido é o rosto mesmo de Cristo.

Que essa singela reflexão seja oportuna a você leitor (a) no sentido de cultivar não um sentido de desespero diante da morte ou ainda que lhe ajude a aceitá-la com um olhar sereno. De certa forma a morte é nossa parceira. Sem a morte e experiência da cruz não se experimentará a vida glorificada. Ao mesmo tempo ajude a examinar quais ações são prioritários em sua vida e se elas estão relacionadas às escolhas d’Aquele que nos chama a viver na santidade e nos assegura uma Vida plena, eterna e feliz. De uma coisa estou certo aquele que faz a vontade de Deus não ficará sem recompensa: o cêntuplo nesta vida e a vida eterna.